Bruno Alê
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Luz e Trevas

Bruno Alê


Eu vou contar uma história sobre um dia qualquer
podia ser com qualquer um, homem ou mulher
qualquer um que atenda a uma descrição:
possuir melanina, o chamado negão
o pretinho, a neguinha, o cabelo sarará
do tipo que a polícia vê na rua e gosta de parar
é, mas não foi homem nem mulher
foi com uma criança, acredite se quiser
só quero alguns minutos pra você me ouvir
essa história aconteceu muito longe daqui
era um dia de semana, eu não lembro qual
tava fazendo frio, coisa bem normal
dentro de uma escola tocou o sinal
era hora da saída, todo mundo dando tchau
sem o pai, sem a mãe, nem por um segundo
é assim no que eles chamam de primeiro mundo
a criança obrigada a ser independente
sai da escola sozinha, e não foi diferente
com a menina da história que eu vou contar
ela seguia sorridente pro conforto do lar
7 anos de idade, uma menina inocente
sem nenhuma maldade, dentro da sua mente, é
levava uma vida feliz
mais uma brasileira em outro país
orgulhosa de onde veio, com dignidade
carregando a bandeira da brasilidade
mas nesse dia o acaso não lhe ajudou
o destino conspirou pro cenário de horror
escondidos à espreita na esquina
chapados de cerveja ou trincados com a cocaína
não sei
e ela também não sabia
o cenário tava armado para a covardia
marca registrada de um racista
covarde pra caralho
só se garante em bando quando tá na pista
sozinho ele vira um boçal
precisa da sua gangue para praticar o mal
bateram de frente
portando canivete
ela tava cercada
um mascava chiclete
ficou desesperada
sua idade era 7
sua roupa rasgada
e o racista repete:
“engole o choro, cala essa boca
senão ainda te mato depois de rasgar tua roupa
mas hoje é o seu dia de sorte
não vamos fazer nada
hoje não vai ter morte”
E o grupinho de covardes se mandou
rasgou a roupa dela, foi embora, e ela ali ficou
foi pra casa e o seu choro não parou
contou pros dois irmãos e um amigo a cena de terror
imediatamente então
os 3 moleques resolveram revidar aquela ação
tomados pelo ódio feito galo de rinha
pegaram algumas facas na cozinha
o mais velho com 11 anos
outro com 10
e outro com 9
cavalos sem rédea, prontos pra tragédia
saíram com desejo de matar
rodaram o bairro inteiro e não encontraram quem queriam encontrar
não pararam de andar, querendo se vingar
sentindo o cheiro da raiva no ar
então num matagal
encontraram a cabana da gangue
mas não tinha ninguém
só umas manchas de sangue
e umas garrafas de cerveja vazias
na parede alguns rabiscos e uma frase que dizia
alguma merda escrota que eu não lembro qual
e embaixo o nome deles, olha só que legal
essa era a senha, vamo destruir essa porra toda, que se foda
nessa hora eu queria uma dinamite que exploda
a cabeça desses filhas da puta, me ajudando na luta, castigando a conduta deles
só que não tinha explosivo
então se contentaram em quebrar as janelas de vidro
quebraram as paredes de madeira
e mesa, e cadeira
com rapidez, sem marcar bobeira
botaram tudo abaixo e meteram o pé
depois ficaram imaginando durante o rolé
sentindo um estranho sentimento traiçoeiro
o mais velho disse “se eu tivesse um isqueiro
matava aqueles vermes com requintes cruéis
depois tacava fogo da cabeça aos pés”
é foda... a gente estraga nossa vida
agindo por impulso como um louco suicida
influenciado e provocado por canalhas
empenhados em nos derrotar nessas batalhas
que aparecem na nossa evolução
mudando o rumo e destruindo um nobre coração
se aqueles 3 moleques encontrassem o inimigo
assinariam a sentença de um grande castigo
suas vidas destroçadas de um jeito ou de outro
mas quem vai julgar?
É do instinto humano querer se vingar
pega um vacilão e depois mata
o coração é nobre mas o sangue não é de barata
pouco depois se mudaram
e aquele episódio nunca mais ressuscitaram
a vida é sorrateira, às vezes você cai
é preciso altruísmo se guiando nas palavras do pai
treva não vence treva, ele dizia na cruz
pra vencer a escuridão você tem que usar a luz

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