A linguagem que afasta e ao mesmo tempo vacila
Ironia do destino ou destino ironia
Eu vejo quadro pretos com pretos desenhados
Mas os pretos que estão nos quadros
não transitam deste lado
Quando transitam causam medo
São vistos como sujeitos mal encarados
Mas você me pinta, você me pinta
Você pinta minha pele preta com seu pincel bem caro
Os afros sambas de Baden Powell
Fazem sentido nas festas que você
Dança balança
Dança sem sentido não entende o senti-lo
Se vê um preto atravessa pro outro lado
Se for no farol fecha o vidro do carro
escutando os afros sambas de Baden Powell
Menciona orixá se não for blindado
Reflexo de um discurso estereotipado
Isso custa caro não pra quem fecha o vidro
mas na cara de quem o vidro e fechado
As agressões são simbólicas deste lado
As físicas existem, mas agora não vem ao caso


De um lado quadro pretos com pretos desenhados
Do outro lado vejo pretos enquadrados
De um lado quadro preto com pretos desenhados
Do outro lado vejo pretos enquadrados

Prisão mental
Espaços convicções
Cadeia é o mundo sem muro de prisões
Limitam seus sonhos faltam ar nos pulmões
Punho cerrado
Símbolo de revoluções
Quilombos modernos
Cadeia sem muro universo paralelo
Como chegar lá? Como alcançar?
São poucas as historia de quilombo e quilombolas
Nossa herança cultural mataram na escola
Impedidos de entrar cultura manifestar
Difícil de crescer e conviver
com uma parte da história se achando a escória
A margem da margem sem histórico de identidade
Coisas de Brasil
Só sei até meus bisavós porque meus pais
só sabem até esta parte
Reféns da metade
Eu vejo quadros pretos com pretos desenhados
Mas os pretos que estão nos quadros
não transitam deste lado
Do outro lado vejo pretos enquadrados