Antonio Villeroy

Keiko

Antonio Villeroy


Som de gamelões
Incenso de jasmim, enfeites de Origami
No porão do armazém, atendia uma
Nissei
Ex dublê de Mata Hari

Instrutota da Tai Chi
Dominava o javanês e música de Bali
Fez um filme em Hong Kong
Vendeu flores em Shangai e foi
Gueixa em Nagasaki

Falou que o seu amor
Era louco quem ousasse seduzir
Que petrificava quem olhasse bem
Nos seus olhos furta-cor

E cor e cores são
As vitrines de São Paulo, no metrô
Num grafiti à meia-noite, reluziu
O seu poema de visões

KEIKO DE SHANGAI
NISSEI DE HONG KONG

Salmão, gengibre e outra raiz
Lá se foi um jarro de saquê
Vendo os passos tortos de um país
Decupado nos reclames de tevê

Retirantes, órfãos e zumbis
Replicando nos contornos da babel
Pestilentos ratos de Camus
Afogados nos ditames do cartel

Um símio fliperou
Digitando um Macintosh
Em meio tom, vendo a Millus um
poeta traduziu:
- No latin ela tem côr!

É cór e cores vão
Pelas tardes do Brasil, a pleno sol
Na garoa minha vênus esculpiu
O seu poema de visões
KEIKO DE SHANGAI
NISSEI DE HONG KONG

O poema de Keiko era algo indecifrável…
Ela nasceu num canto pobre
de Manhatan e
depois de viver experiências
incríveis veio morar no BRASIL
Era mestre em artes zen e
procurava
o amor verdadeiro!
- Daí sua idéia de petrifição
retirada de um antigo conto persa.

Mas o poema falava em noite rubra…
com uma densa atmosfera…
de trovão e chuva
DEPOIS da tempestade o caos se
dissolveu e fomos tomar CHÁ!
Aí! E vivemos…

FRAGMENTO DO POEMA DE KEIKO
Céu vermelho
Anjos purificam o jardim
Onde gerânios exalam
Depois de forte pressão
Tudo se harmoniza
E o rio de ouro é preservado

Compositores: Jose Antonio Franco Villeroy, Fernando Corona
ECAD: Obra #18923924 Fonograma #585237

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