Quando ouço na chapada O tinir da canga e do carretão Sinto por dentro umas pontadas Que dor no coração! É que esse canto em eras passadas Representava uma aliança Entre os cascos na poeira da estrada E meus sonhos de criança
O canto da passarada com o carro duetava O azul do céu com a terra Naquele instante se encontrava O orvalho da manhã era cristal na luz do dia Até parecia o amor ardente do "zói" de Maria
Eh! Tempo que foi Te guardo no coração Eh! Carro de boi Sumiste no estradão
Hoje tenho as mãos calejadas De um trabalho duro e cruel Só me restou uma sorte marvada Boi de canga do coronel Faço parte dessa manada Na cidade tonta e perdida Me vem na garganta um nó de laçada E no peito uma sodade doída
A cantoria da chapada Hoje é buzina de metal O aboio da boca da noite Hoje é sirene de hospital Orvalho só resta nos "óio" O sol já não faz meio-dia O que ainda me sustenta E fé em Deus e paz na guia
Eh tempo que foi Te guardo no coração Eh carro de boi Sumiste no estradão